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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Exemplo de poesia campeã e vice campeã

1º LUGAR Nome: Maria João Pessoa Pseudónimo: Joaquim Sartre Malveira, Mafra PSEUDOBIOGRAFIA Era assim que acontecia. A mulher suportava no seu esforço de dar de comer aos outros, na parte viável da sua atenção, sem nunca perguntar, mas quando se calava havia uma bruxa dentro dela por causa da sua falta de malícia. A mulher transformava-se então num fumo branco que se afastava. Todos gostavam da mulher, da sua forma de falar, mas ela fustigava o sol e escondia-se pela fresca a olhar o mar e ninguém sabia bem porque ela não ouvia. Dizia que na sua casa havia livros e pouco chovia e o tempo era um amigo calmo que entrava pelas frestas das paredes quando viajava com a criança que lá vivia. Quando a criança chegava era para deixar de estar sozinha e mostrar-lhe a alegoria das nuvens de que carecia para crescer. Depois a mulher despia-se com os sentidos expostos pelos calos das mãos, que eram as suas asas que não voavam mas a sustentavam, e entrava com o cabelo com que saía pelo mundo e tudo o que nela existia de humano. E as nuvens guardavam a humidade de séculos e séculos no movimento das suas pequenas hélices, porque o movimento era o início que se repetia através dos dias. Mas nem nesse instante a mulher desistia. Ela falava para tentar ocupar o corpo mas não cabia no corpo que lhe tinha sido dado, nem mudando de posição com a força da água a respirar por cima para ficar de pé, e construia o tempo de novo apenas com uns pedaços de poesia. 2º LUGAR Nome: Paulo Jorge Coelho Carreira Pseudónimo: Paulo Marcelo Batalha A minha palavra A minha palavra preferida é, deixem-me ver, uma daquelas que se propaga pelos muros de pedra onde os garotos se empoleiram para roubar frutos, nêsperas em Junho ou pêssegos em Agosto, ou onde os amantes se debruçam e fazem uma ponte para trocar beijos, carícias nas mãos, ou no corpo, e quem diz corpo diz rosto, pescoço, ombros, colo. Nos muros de pedra musgo, arroz-dos-telhados e heras, alguém que se inclina para ouvir os cucos ao domingo à tarde, alguém que pára o seu tempo interior e aspira a luz das árvores bebendo ao mesmo tempo o néctar de todas as frágeis flores. Frágeis ou mansas, mas também bravias como só as flores dos muros onde os amantes se dão e os garotos lambem o sumo nos dedos. É uma palavra viva, que cresce e avança, teimosa em ser poema. Madressilva, a minha palavra, que o poema não pode esperar Fonte:XXI concurso de poesias Agostinho Gomes

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